domingo, 21 de dezembro de 2008

PRINCESAS

Acordavam felizes naquelas manhãs que já começavam a ser agradavelmente quentes.O pequeno almoço em conjunto e com tudo aquilo que gostavam era saboreado ao som da tal música que as fazia sonhar e ansiar pela tão esperada noite . . .
Passavam o dia inteiro para escolher tudo com pormenor. Juntas, sempre juntas . . . O vestido, os sapatos, o cabelo, a maquilhagem . . . tudo tinha que parecer perfeito. A noite era delas.Tinham que ter tudo pronto para brilhar para viver tudo com todas as emoções . . .
E eis que chega a tão esperada hora. Atrasadas como sempre. Mas lindas . . . "Muito melhor do que das outras vezes!", diziam!
Saiam então de mãos dadas e aparentando um misto de confiança e postura correcta. Os lindos vestidos de seda arrastavam pelo chão. Iguais ou então muito parecidos (tal como elas, tão iguais nas suas diferenças!) mas as cores, essas não eram as mesmas . . . no meio aquele rosa que tendia para um violeta muito ténue, leve, cheio de brilho e de cada um dos lados, o amarelo como se fosse o sol, o azul, como se fosse o céu . . . Caminhavam então por dentro desses jardins que já se mostravam verdes. Saltinho aqui, saltinho ali porque os sapatos eram novos e não se pudiam estragar . . . eram também altos, muito altos para que a elegância fosse outra, para que todos vissem que eram especiais . . . quem mais conseguiriam calçar algo assim e dançar a noite toda envolta em metros de tecido sedoso, brilhante e frio? Ninguém . . . apenas as três, as donas da noite, do baile, dos olhares, do sonho e da fantasia.
Chegadas ao local não perderam o olhar de nenhum dos presentes. Tal como calculavam, todas as viram, todos as quiseram ver melhor. Eram de facto as mais bonitas e ainda não tinham começado a encenar os tantos passos mil vezes ensaiados em frente ao espelho mas que depois saiam sempre tão diferentes . . . eram as almas, os pobres corações que em cada dia e em cada uma delas despertava um soar diferente, um sabor distinto, um prazer incalculável.
Começou o baile.Chegava a hora de brilharem, de tirarem os casaquinhos de renda e inundarem a bela pista de chão dourado de brilho e magia. Dançavam com movimentos ora leves, ora bruscos. Era como sentiam, era como viviam cada nota, cada pausa, cada tom, cada olhar, cada pisar do chão com a ponta do pequeno pé . . . Paravam todos para as ver com os belos príncipes na tal pista dourada. Pareciam velhas coreografias ensaiadas mas era tudo tão novo, tão derradeiramente espontâneo! Enchiam-se os olhares de sonhos e de sorrisos e do brilho dos seus vestidos! Enchia-se toda a sala da sua alegria, da sua vida, da sua energia, da sua vontade de brilhar, de sentir, de viver paixões, de serem felizes . . . HORAS, horas que passavam assim e nem entendiam a palavra cansaço. Mas a música acabava por parar e desfaziam-se os sorrisos. Depois de sairem daquela porta não mais eram olhadas.
Os príncipes, aqueles da pista, agarravam gentilmente a mão das suas damas invejosas de pés pesados e vestidos escuros, sem vida, sem amor . . . Os outros, os que olhavam, viravam costas, já de olhos cansados e saiam, de volta às atribuladas vidas de quem não dança.
E então elas, as princesas disfarçadas, voltavam a casa sozinhas, as mãos bem apertadas, as vozes caladas e os sapatinhos com muito mais cuidado agora que o jardim ensopava a humidade da madrugada. Os vestidos já nem brilhavam tanto. Os corpos cansados queriam dormir. A música, essa sim, soava ainda naqueles peitos suados ricos de tudo o que se podia viver . . .