Faz tempo que o tempo da escrita se foi.
Mas hoje, quando o tempo é tempo de bater lá bem no fundo, cá estou eu, na mais pequena esperança de não me afogar no poço. . . Ainda assim, com algum medo de me afogar ainda mais.
Sem tempo, sem vontade, sem objectivo, sem esperança, sem alegria, sem aquele brilhozinho nos olhos . . . mas pelo menos, acordada, à espera que o tempo mude, que a maré se acalme, que o vento conduza ao porto de abrigo, que o sol aqueça e não queime, que a chuva lave mas não molhe . . . perdida no meio de tanta coisa e com tanta vontade de encontrar nessas coisas alguma coisa que valha a pena.
Outra vez a fúria das palavras que passam rápido como as horas em que vejo o tempo passar-me ao lado, em que a vida me escorre pelos dedos sem se perder nas veias lentas pelo cansaço . . . outra vez a fúria de querer mais . . . ao menos isso, ao menos querer.
Agora vou que a consciência a mais não deixa e o tempo passa, passa e nada avança. Tem que ser, custa, mas vou. E porquê? Para quê? Queria apenas saber . . .
" Que tristeza tão inútil essas mãos
Que nem sempre são flores que se dêem:
Abertas são apenas abandono,
Fechadas são pálpebras imensas,
Carregadas de sono "
( As Mãos, Eugénio de Andrade)
Sem comentários:
Enviar um comentário